segunda-feira, 1 de junho de 2015

01/06/2015 07h11 - Atualizado em 01/06/2015 07h13 G1 relata abandono de moradores de Gramacho, 3 anos após lixão fechar Ex-catadores sofrem com a falta de emprego e água potável. Famílias, que vivem entre lixo e porcos, continuam sem saneamento básico.

Com olhar cansado, mãos calejadas e apenas 19 anos, Carlos Medeiros Almeida tem um sonho em comum com outras centenas de ex-catadores do antigo aterro sanitário de Gramacho: “O direito de ter direito”. Há três anos, enquanto um caminhão da Comlurb subia a rampa para descarregar a última caçamba dentro dos muros do maior aterro da América Latina – que fica no município de Duque Caxias, na Baixada Fluminense –, cerca de 1,4 mil catadores comemoravam a possibilidade de mudar de vida.
Moradores e crianças precisam caminhar no meio do lixo. (Foto: Marcos de Paula / G1)Moradores e crianças precisam caminhar
no meio do lixo. (Foto: Marcos de Paula / G1)
No entanto, desde o fechamento oficial do aterro, no dia 3 de junho de 2012, quando diversas autoridades trancaram com um cadeado os portões do lixão, a vida de catadores que continuam vivendo no entorno do local está ainda pior. Sem saneamento básico, moradia e condições dignas de sobrevivência, eles enfrentam agora a dificuldade da falta de trabalho e de água potável para o consumo.
De acordo com a Lei 12.305/10, que determinou o fechamento dos lixões e instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, além do reconhecimento profissional e da capacitação, está prevista a inclusão social dos catadores.

“O rapaz que tem bomba [que capta água de um cano da Cedae nas proximidades do aterro] vende água pra nós a R$ 20 o barril [cerca de 90 litros]. Dá pra quase um mês, porque eu sou sozinho. Eu também tomo banho no trabalho antes de sair [para economizar]”, diz Carlos, que, apesar de não ter recebido nenhum curso de capacitação, conseguiu emprego de auxiliar de serviços gerais em um hospital da Zona Norte do Rio.
Carlos vive num barraco de madeira que conseguiu construir quando ainda era menor de idade e subia a rampa de Gramacho de madrugada para catar material reciclável e madeira. Após o fechamento do lixão, as fábricas de reciclagem que existiam no entorno do aterro também pararam as atividades. Como muitos moradores utilizavam a água dos canos que abasteciam essas empresas, ficaram sem água potável para o consumo.
“Muitas pessoas pegavam água lá dentro, colocavam canos, sabe? Agora não tem água para beber e tomar banho. Quando as ONGs chegam para ajudar com os fardos de água, parece que você está na Somália, na Etiópia. É triste demais”, explica o ex-catador Sebastião.
Conhecido mundialmente após protagonizar o documentário "Lixo Extraordinário", que contou a história dos catadores do aterro, Tião lembra que antes as pessoas conseguiam ao menos sobreviver. “Gramacho [bairro] hoje é um bolsão de miséria e exclusão social. De certa forma, Gramacho [o antigo aterro sanitário] era onde as pessoas excluídas da sociedade conseguiam ser incluídas, pelo menos para sobreviver.”
Inclusão em conjunto com fechamento de lixões
Durante a sexta audiência da Comissão parlamentar de Inquérito dos Lixões na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 25 de maio, o procurador Renato Machado, do Ministério Público Federal (MPF), destacou que, apesar do antigo aterro ficar dentro de Duque de Caxias, durante 35 anos o município que mais despejou resíduos lá foi o Rio de Janeiro. Logo, a capital fluminense tem grande responsabilidade na inclusão desses catadores.
Quando as ONGs chegam para ajudar com os fardos de água, parece que você está na Somália, na Etiópia. É triste demais"
Sebastião, ex-catador
“O fechamento tem que se dar conjuntamente com a inclusão dos catadores. O município do Rio é o pior exemplo que a gente pode usar para o Brasil do cumprimento da Lei de Resíduos Sólidos, porque a inclusão dos catadores de Jardim Gramacho não foi feita de forma adequada. Foi dada uma indenização e pronto. Eles tinham que ter sido aproveitados na logística da coleta seletiva. Segundo a lei, os catadores devem ser estimulados a se associar em cooperativas e a experiência deles tem que ser aproveitada na coleta seletiva do município. E tem toda essa problemática, pois eles moram em Caxias, mas o principal município que jogava lá era o Rio. Então, dar um dinheiro x não basta”, garantiu Machado.
arte gramacho infográfico (Foto: Editoria de Arte / G1)
Apesar de a lei estabelecer que a inclusão dos catadores deve ser feita paralelamente ao fechamento dos lixões, três anos depois os catadores ainda não podem contar com um plano de coleta seletiva.
Segundo a prefeitura de Caxias, foi assinado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para a implantação da coleta no município com os catadores.
“Desenvolvemos o projeto com eles e vamos começar em um bairro no município com expectativa de ampliação da área de abrangência da coleta, após seis meses de coleta seletiva iniciada”, explicou o secretário de Ambiente do município, Luiz Renato Vergara, ressaltando que a demora para a criação do plano ocorreu devido à mudança de governo.
Até a publicação dessa reportagem, a prefeitura do Rio, que operava o aterro e era responsável pelo despejo diário de 10 mil toneladas de resíduos no local, informou apenas que pagou a indenização de quase R$ 14 mil aos catadores, mas não respondeu sobre os cursos de capacitação e quantos profissionais trabalham na coleta seletiva atualmente.
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Crianças andam no meio do lixo e dos porcos (Foto: Marcos de Paula / G1)Crianças andam no meio do lixo e dos porcos (Foto: Marcos de Paula / G1)
Para os catadores, é fundamental criar um sistema que substitua os empregos gerados pelos lixões. “Não basta erradicar o lixão. Erradicar por erradicar é a exclusão da exclusão”, criticou Tião.

Problemas de saúde
A falta de saneamento e condições mínimas de higiene já trouxeram inúmeros problemas e doenças aos moradores da região. Carlos, que tem um filho de três anos, conta que a mãe da criança não deixa ele levar o filho para casa dele com medo que a criança pegue alguma doença. “Às vezes, quando ele vem aqui, tem que ficar em cima da cama. Não dá para ele brincar no chão”, contou o rapaz.
Às vezes as crianças têm muita dor de barriga, têm febre, o meu filho mais velho já ficou internado por causa da qualidade da água. Ele teve infecção urinária por causa da bactéria que tinha na água"
Natalie Pinheiro, ex-catadora
A família de Natalie Pinheiro, 25 anos, que foi catadora dos 16 até os 22 anos, também já passou por dificuldade por conta de água contaminada.
“Às vezes as crianças têm muita dor de barriga, têm febre, o meu filho mais velho já ficou internado por causa da qualidade da água. Ele teve infecção urinária por causa da bactéria que tinha na água”, lembrou. Depois disso, Natalie comprou um filtro de barro para melhorar a qualidade da água que os três filhos usam para beber.

“Meu marido comprou uma bomba com o dinheiro que recebeu da indenização. É como a gente puxa a água, porque não tem encanação aqui dentro”, contou Daniele Áurea Mendes da Silva, de 31 anos, que tem sete filhos e vive num barraco de madeira de apenas um cômodo e sem banheiro. A família toma banho a céu aberto, no quintal de casa, utilizando galões de água que são abastecidos pela bomba que o marido comprou.
Daniele e sua família tomam banho de roupa no quintal de casa, pois barracos da comunidade não têm banheiro (Foto: Marcos de Paula / G1)Daniele e a família tomam banho de roupa no quintal, pois não há banheiros (Foto: Marcos de Paula / G1)
Natalie gastou quase todo o dinheiro da indenização com a alimentação do filho caçula, que nasceu com intolerância à lactose. “Cada lata de leite era muito cara, custava R$ 600. Coloquei ele no programa do hospital infantil de Duque de Caxias, mas não consegui ganhar o leite e eu tinha que comprar. O meu dinheiro foi para ele”, explicou Natalie.

Há três anos, quando a equipe de reportagem do G1 esteve em Gramacho, para conversar com os catadores, Daniele fez um desabafo: “Às vezes, tenho vergonha que minhas amigas venham aqui. Então, prefiro nem chamar”, contou ela na época, diante do barraco de madeira onde morava.
Coloquei as crianças para treinar e um garoto desmaiou. [...] [Depois] O garoto virou e disse: ‘Pastor, tem três dias que eu não como nada. Não tem nada lá no barraco para comer"
Anderson Leite, pastor e responsável
pelo projeto Ide Missões
Três anos depois e com um filho a mais, ela contou qual continua sendo o seu grande desejo. “O meu maior sonho é ter uma casa de tijolo para botar os meus filhos dentro e ter um emprego”, disse a jovem, que na época em que podia trabalhar no lixão e perto de casa revezava com o marido. Hoje, no entanto, como ele trabalha como pedreiro fora de Gramacho, a única renda da casa é a dele. “Alguém precisa ficar aqui com as crianças”.
Ponta de esperança
À frente do projeto social Ide Missões, o pastor evangélico Anderson Leite ressalta como consegue abrandar a fome de alguns jovens que vivem nas comunidades de Gramacho.
“Coloquei as crianças para treinar e um garoto desmaiou. Corri na padaria, comprei uma coca-cola e uma bananada e demos a ele para a taxa de glicose subir. Depois, dei uma bronca no moleque e disse que eles tinham que comer antes de vir treinar. O garoto virou e disse: ‘Pastor, tem três dias que eu não como nada. Não tem nada lá no barraco para comer’”, lembra Anderson, que, depois desse dia construiu uma cozinha industrial onde oferece almoço e lanche diariamente para cerca de mil crianças.
Pastor Anderson faz trabalho comunitário há sete anos na comunidade (Foto: Marcos de Paula / G1)Pastor Anderson faz trabalho comunitário há sete anos na comunidade (Foto: Marcos de Paula / G1)


 Segundo Anderson, o objetivo do projeto é mudar a vida dos jovens através do esporte. Num galpão construído na comunidade, crianças e adolescentes fazem aulas de artes marciais todos os dias da semana e nos fins de semana participam de competições no Rio e até fora do estado. De acordo com o pastor, alguns meninos que estavam entrando para o tráfico de drogas acabaram vendo no esporte uma oportunidade de vida.

“É isso que vale a pena. Minha missão é essa. Quando estava decepcionado com a igreja e pedi a Deus para orar e sair do Brasil e ir para o Haiti ou para a África, ele me apresentou uma África bem perto de mim, uma região de miséria extrema que fica a 30 minutos de qualquer ponto do Rio. Jardim Gramacho para mim é a África brasileira e por isso estamos aqui há sete anos”, garante.
Crianças se divertem em parquinho de comunidade de Duque de Caxias (Foto: Marcos de Paula / G1)Crianças se divertem em parquinho de comunidade de Duque de Caxias (Foto: Marcos de Paula / G1)

01/06/2015 05h29 - Atualizado em 01/06/2015 07h14 O que você precisa saber para começar este 1º de junho de 2015 Maior aterro do país, Gramacho vive entre lixo e porcos 3 anos após fechar. Programa de vigilância dos EUA está temporariamente suspenso.

Leia abaixo:
Selo Trânsito RJ (Foto: Editoria de Arte/G1)
A tarifa de pedágio da Ponte Rio-Niterói passou de R$ 5,20 para R$ 3,70, a partir desta segunda (1º). A mudança se deve à concessão da via para a EcoPonte, válida pelos próximos 30 anos.


selo - empregos (Foto: Editoria de Arte/G1)
Concursos com inscrições abertas reúnem 22,2 mil vagas em todo o país. Cargos são para todos os níveis de escolaridade, e salários chegam a R$ 30.471,11 no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Confira todas as oportunidades.

selo - política (Foto: Editoria de Arte/G1)
A Câmara faz sessão extraordinária para votação de acordos internacionais. Na pauta estão assuntos como o Protocolo de Montevidéu, que define medidas a serem tomadas em caso de ruptura da ordem democrática em qualquer país do bloco.

selo - espionagem (Foto: Editoria de Arte/G1)
Sem acordo no Senado, o programa de vigilância dos EUA está temporariamente suspenso. Conhecida como Patrioct Act, a lei permitia que dados telefônicos fossem consultados pelo governo sem a necessidade de autorização judicial.

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selo - meio ambiente (Foto: Editoria de Arte/G1)
O G1 publica hoje a primeira matéria especial sobre os 3 anos do fechamento do lixão de Gramacho. Famílias de catadores que vivem no que já foi o maior aterro sanitário da América Latina seguem sem saneamento e condições de moradia no Estado do Rio.

Edição do dia 31/05/2015 31/05/2015 21h03 - Atualizado em 31/05/2015 22h14 Segundo PF e MP, fraudes do DPVAT podem chegar a R$ 1 bilhão ao ano Funcionário de fazenda conta como fraudadores se aproximam. Policiais também faziam parte do esquema. Investigador fez, em um ano, 6 mil BOs.


O Fantástico denuncia o golpe do DPVAT, o seguro obrigatório que o motorista que tem carro, moto, qualquer tipo de veículo, tem que pagar todo ano. O DPVAT é usado para indenizar as vítimas do trânsito. Mas tem gente que caiu do cavalo e recebeu:
Em uma noite de São Paulo, ao bater em um carro, o motoqueiro quebrou a perna e ficou em coma. Ele e todos que se machucam com alguma gravidade no trânsito brasileiro têm direito a receber uma indenização. É dinheiro do DPVAT, o seguro obrigatório.
Claro, se você cair do cavalo, se machucar jogando bola ou em uma briga, não tem direito a receber um centavo desse benefício. Só que mesmo nesses casos, o pagamento saiu. Como?
“Nós observamos vários casos absurdos. Nós não temos dúvida alguma de que as fraudes podem chegar a até R$ 1 bilhão ao ano em todo o país”, afirma o delegado da Polícia Federal Marcelo Freitas.
Em 2014, os donos de carros, motos, ônibus e caminhões pagaram quase R$ 8,5 bilhões de seguro obrigatório, o DPVAT. Por lei, 45% têm que ir para o Sistema Único de Saúde (SUS) e 5% para o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A outra metade é para pagar as vítimas de acidentes.
Quando a polícia diz que as fraudes representam R$ 1 bilhão por ano, significa que 25% do valor destinado às indenizações em 2014 estariam sendo usado indevidamente. “Uma completa ausência de controle, uma absoluta ausência de fiscalização”, diz Freitas.
Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Nesses estados, em uma investigação recente da Polícia Federal e do Ministério Público, foi possível descobrir o caminho da fraude, que começa com uma mentira e termina com o dinheiro no bolso dos golpistas.
Gildemar trabalha em uma fazenda em Janaúba, Minas Gerais. No ano passado, ele caiu do cavalo e quebrou o pé. Diz que uma mulher o procurou e falou para ele mentir que tinha sofrido um acidente de moto.
“Falou pra mim, pra fazer uma ocorrência como tivesse caído de moto. Naquele desespero, já machucado, ela falou: ‘não, nós temos que fazer isso, vai sair um dinheiro pra nós. Vamos fazer isso, vamos fazer’. Eu peguei e fiz”, conta o trabalhador rural Gildemar Bispo de Jesus.
Ele recebeu cerca de R$ 1,7 mil do seguro obrigatório. Desse total, a golpista embolsou R$ 200. “Admito que eu menti também, mas porque eu fiz induzido”, aponta Gildemar.
O homem que caiu do cavalo foi procurado por uma 'atravessadora', uma golpista que se passa por despachante e promete resolver tudo em troca de uma porcentagem do seguro. Os fraudadores costumam ficar em escritórios perto dos hospitais ou mesmo dentro dos setores de emergência médica, à espera de novos clientes.
“Pedimos que a Polícia Federal tomasse essas providências no sentido de inibir ou de encontrar uma saída pra que esse tipo de profissional não tenha acesso”, conta o superintendente da Santa Casa de Montes Claros, Maurício Souza e Silva.
Segundo a Polícia Federal, outro golpe começou em um campinho de futebol. Leomar Miranda Santos é presidente da Câmara de Vereadores de Rubelita (MG), município de sete mil habitantes.
Fantástico: O senhor joga bola?
Leomar: Jogo bola.
Fantástico: Chuta com que perna?
Leomar: Com a direita.
Com autorização da Justiça, os telefonemas dos golpistas foram gravados. Em uma conversa, dois homens falam sobre Leomar.
Suspeito 1: Eu vi Leomar. Na verdade, ele caiu, se machucou jogando bola, né? Comenta nada com ninguém, não. Beleza? Falei: “Não, beleza.”
Fantástico: O senhor caiu de moto ou caiu jogando bola?
Leomar: Me acidentei de moto.
Fantástico: Quando foi isso?
Leomar: Foi dia...
Fantástico: Mês, por exemplo.
Leomar: Mês de maio. Dia 13 de maio. Se eu não me engano, dia 13 de maio.
No Boletim de Ocorrência, o acidente foi em 13 de maio de 2014. A investigação concluiu que as informações do BO são falsas.
Leomar: Eu quebrei o tornozelo direito.
Fantástico: Quanto o senhor recebeu de DPVAT?
Leomar: R$ 7.087, se não me engano.
Fantástico: O senhor agiu de má fé?
Leomar: De forma alguma. Provarei isso, se necessário.
Comprovada a irregularidade, o dinheiro das fraudes tem que ser devolvido.
De acordo com as investigações, policiais civis também faziam parte do esquema. Em uma delegacia de Montes Claros (MG), um único investigador chegou a fazer, em um ano, seis mil boletins de ocorrência. Todos de acidente de trânsito.
Fernando Lopes das Neves, o 'Caveirinha', é policial há 18 anos. Segundo o Ministério Público, o investigador de Montes Claros fazia ele próprio os boletins com informações falsas e também permitia que outros usassem a senha dele para acessar o sistema da polícia.
“Identificamos que a senha desse policial foi utilizada de dentro das diversas empresas que intermediavam o pagamento desse seguro”, conta o promotor de Justiça Guilherme Fernandez Silva.
O investigador foi preso em abril de 2015, acusado de receber R$ 100 de propina a cada boletim forjado. E em maio de 2015, respondia em liberdade. O Fantástico tentou falar com ele, mas nem o policial, nem o advogado responderam.
O último passo do golpe é conseguir um laudo com informações falsas, assinado por um médico. O valor da indenização paga pelo DPVAT varia conforme a lesão, que tem que ser grave e provocar invalidez permanente total ou parcial.
“É a lesão que se perpetua no tempo, ou seja, perda da utilização total daquele membro”, explica o professor de medicina legal da USP Henrique Soares.
Invalidez permanente: a indenização é de até R$ 13,5 mil. Se o acidente não foi tão grave, mas houve despesas com médico e hospital, a pessoa tem direito a até R$ 2,7 mil. Em caso de morte, o valor é R$ 13,5 mil.
Uma mulher, que não quis se identificar, foi procurada por um golpista, que conseguiu liberar o dinheiro do seguro falsificando os atestados, sem fazer nenhuma perícia. “Ele só pegou o documento, entregou para o médico e pediu pra mim ir embora: ‘pode ficar tranquila que vai dar tudo certo’. Eu não vi o médico”, conta ela.
A Seguradora Líder é a responsável pelo pagamento das indenizações. Esta semana, o Ministério Público deve entrar com uma ação civil pública contra a empresa. “A investigação aponta que há sim uma participação de dentro da seguradora Líder pra facilitar os pagamentos de fraude”, afirma Guilherme Fernandez Silva.
A seguradora nega e diz que as fraudes não chegam a R$ 1 bilhão por ano, como afirma a Polícia Federal. “Nós temos um controle de qualidade, nós fazemos auditoria. Poderá haver problema? Poderá haver problema. Afinal de contas é um país grande. Mas nós temos um cuidado muito grande, fiscalizamos com a maior intensidade possível. Fraudes efetivamente não chegam a 1% do que efetivamente acontece”, afirma o presidente da Seguradora Líder, Ricardo Xavier.
Ou seja, para a seguradora, as fraudes não somam R$ 40 milhões por ano. E a empresa recomenda que as pessoas deem entrada no pedido de indenização por conta própria. “Se a pessoa procurar uma da nossa rede autorizada, que tem 7.880 pontos de atendimento em todo Brasil, em todos os municípios, terá o atendimento gratuito”, aponta o presidente da Seguradora Líder.
“As fraudes ao seguro DPVAT estão acontecendo em cidades de Norte a Sul do país de maneira absolutamente impune, razão pela qual os órgãos têm que agir de maneira firme evitando que essas fraudes possam persistir”, alerta Marcelo Freitas.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Inflação oficial fica em 0,71% em abril, a menor taxa do ano, mostra IBGE

Contas de luz subiram menos e deram alívio ao IPCA. 
Para meses de abril, no entanto, a taxa é a maior desde 2011.


A inflação oficial do país, calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) perdeu força e ficou em 0,71% em abril – a menor taxa entre os meses de 2015. Entre meses de abril, no entanto, a taxa é a maior desde 2011, quando ficou em 0,77%.
INFLAÇÃO OFICIAL
Taxa mensal, em %
0,460,40,010,250,570,420,510,781,241,221,320,71em %mai/14jun/14jul/14ago/14set/14out/14nov/14dez/14jan/15fev/15mar/15abr/15-0,2500,250,50,7511,251,5
Fonte: IBGE
Segundo os dados divulgados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumula alta de 4,56% nos primeiros quatro meses do ano – a maior taxa para um primeiro quadrimestre desde 2003, quando foi de 6,15%. O IPCA é considerado a inflação oficial do país por ser o índice usado para as metas de inflação do governo.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 8,13% – a maior desde dezembro de 2003, quando foi de 9,3%, e 1,63 ponto percentual acima do teto da meta do governo para este ano, de 6,5%.
"O que chama atenção é que, desde o início do ano, a taxa superou 1%. Então, fez um barrigão, e em abril, os preços continuaram a crescer, mas menos acelerado do que nos meses anteriores”, disse Eulina Nunes dos Santos, Coordenadora de Índice de Preços do IBGE.
“Em janeiro, março e abril, o que explica esses resultados é uma concentração de preços monitorados, lembra que foi basicamente os ônibus urbanos, em 2014, nem todos os estados aumentaram as tarifas dos ônibus", explicou Eulina.
"Então, já no início do ano, teve uma avalanche de tarifas, isso aliado em janeiro a reajustes de tarifa de energia elétrica, mais a introdução do sistema de bandeiras tarifárias. E também, se não me engano, em fevereiro, a gente teve a pressão dos combustíveis, a gasolina que pressionou a taxa”. “Os monitorados estão muito acima do IPCA, 9,31% no ano e em doze meses, 13,39%”, ressaltou Eulina.
A especialista do IBGE acrescentou que a inflação do mês de abril também teve influência pela alta do dólar. “Sempre tem a ver com dólar, porque os princípios ativos usados na indústria química têm a ver com dólar”, disse.
Conta de luz
Segundo o IBGE, a maior influência para a desaceleração do IPCA em abril veio dos preços da energia elétrica. O item subiu 1,31% no mês, depois de uma forte alta de 22,08% em março, quando refletiu as revisões nos preços das tarifas de todas as regiões pesquisadas.
"Com os aumentos ocorridos, o consumidor está pagando neste ano, em média, 38,12% a mais pelo uso da energia, enquanto nos últimos doze meses as contas estão 59,93% mais caras", explica o IBGE.
“Praticamente o resultado desse ano se deve à energia elétrica", afirmou Eulina. "A energia responde por um quarto do IPCA do ano (...) em doze meses, subiu 59,93%. Isso significa 19,34% do IPCA de doze meses”.
Alimentos e bebidas
No grupo de alimentos e bebidas, a inflação também perdeu força, passando de 1,17% em março para 0,97% no mês passado. Ainda assim, foi o grupo com maior peso sobre o indicador. O IBGE destaca as altas de 17,9% no preço do tomate, de 7,05% na cebola, e de 6,55% no feijão mulatinho.
De acordo com Eulina Nunes, o tomate “liderou a alta dos alimentos”. “Vem atribuindo a seca, por ser um produto muito sensível, explicou.
Na outra ponta, as quedas mais relevantes de preços entre os alimentos foram vistas na batata inglesa (-10,02%), mandioca (-8,38%) e farinha de mandioca (-2,78%).
Remédios
Entre os grupos de produtos pesquisados pelo IBGE, o de saúde e cuidados pessoais teve a maior alta em abril, de 1,32%. Essa elevação foi puxada pelos preços dos remédios, que subiram, 3,27%, resultado dos reajustes determinados pelo governo e que entraram em vigor em 31 de março.
“A principal contribuição para o resultado de 0,71% em abril, o principal impacto, ficou com os remédios, que são reajustados anualmente nesse período. Então, a partir de 31 de março foi autorizado aumento no preço dos remédios. Então, pode ser que em maio tenha algum resíduo do item remédios”, explicou Eulina.
Serviços
Segundo Eulina, os serviços têm pressionado a inflação nos últimos anos. Mas nesses quatro primeiros meses, em especial, o índice dos serviços está abaixo do IPCA geral. Isso acontece porque o IPCA geral foi muito pressionado pelos itens monitorados, que nos anos anteriores, trouxeram alívio para a inflação.
"Os serviços continuam pressionado, mas em tempos atrás, eles estavam praticamente sozinhos”, diz a coordenadora.
Outros destaques
Entre outros destaques que impactaram a inflação em abril, a liderança foi das passagens aéreas, com 10,21%. De acordo com a coordenadora, isso ocorreu por influência dos feriados no mês. “A passagem aérea é muito instável, sobe e desce conforme tem feriado, dependendo muito fortemente da procura e do que as empresas disponibiliza”.