sexta-feira, 1 de maio de 2015

Brasileiro estava desorientado antes de execução na Indonésia

Segundo advogado, ele não sabia que seria fuzilado.
Rodrigo Gularte e outros sete condenados foram executados nesta semana.



O brasileiro Rodrigo Gularte, executado na Indonésia por narcotráfico e que sofria de esquizofrenia, viveu os últimos momentos desorientado e sem ter consciência do que acontecia, afirmaram seu advogado e um padre que teve contato com o detento.
"Tinha uma mente delirante", disse à AFP o advogado Ricky Gunawan. "Quando anunciaram que a sentença de morte seria executada, ele disse: 'Que sentença de morte? Não vou ser condenado à morte'."
Gularte, 42 anos, foi executado ao lado de outros seis estrangeiros e um indonésio na ilha de Nusakambangan, apesar dos pedidos clemência da família, que apresentou boletins médicos para demonstrar que ele era tinha esquizofrenia.
"Não tenho certeza de que compreendeu em 100% que seria executado", disse o advogado.
Gunawan afirmou ainda que Gularte estava convencido de que a água da prisão de Nusakambangan estava envenenada.
Quando o advogado perguntou quais eram seus últimos desejos, Gularte começou a rir. "Ele estava rindo e perguntou: 'É como se fosse Aladin e tivesse três desejos?", recordou.
"Quando tentávamos falar de coisas sérias, evitava a conversa e dizia coisas absurdas. Estava tranquilo, como se nada estivesse acontecendo", explicou Gunawan.
Todos estavam sendo preparados há alguns dias e todos sabiam que aconteceria uma execução. Mas como ele [Rodrigo Gularte] ouvia vozes que diziam 'não, tudo vai ficar bem', ele acreditava mais nas vozes que nas outras pessoas"
Charlie Burrows, padre
O padre irlandês Charlie Burrows, que teve contato com Rodrigo Gularte nos últimos dias, confirmou que o brasileiro estava confuso sobre o que acontecia, inclusive no momento em que os guardas o preparavam para a execução.
"Pensei que ele havia entendido a mensagem de que seria executado. Mas quando ele viu as algemas, perguntou: 'Padre, vou ser executado?', relatou o religioso ao canal australiano ABC.
"Ele não ficou irritado, mas estava chateado. Ele perguntava: 'Por que isto está acontecendo? Isto não é justo, cometi um pequeno erro. Por que eles não podem me deixar na prisão na ilha e eu não vou dar trabalho a ninguém'", completou o padre.
Rodrigo Gularte (Foto: Reprodução / RPC)Rodrigo Gularte (Foto: Reprodução / RPC)
"Eu pensei que havia explicado o que iria acontecer. Obviamente, ele não entendeu."
O padre Burrows afirmou que o brasileiro ouvia vozes em sua cabeça.
"Todos estavam sendo preparados há alguns dias e todos sabiam que aconteceria uma execução. Mas como ele ouvia vozes que diziam 'não, tudo vai ficar bem', ele acreditava mais nas vozes que nas outras pessoas", explicou.
Prisões e mortes
A execução na quarta-feira de oito condenados – dois australianos, o brasileiro, quatro africanos e um indonésio – provocou uma onda de protestos em todo o mundo.
Gularte, de 42 anos, foi preso em 2004 com 6 kg de cocaína dentro de uma prancha de surf e condenado à pena capital no ano seguinte por narcotráfico.
Após dez anos no corredor da morte, o brasileiro foi executado na madrugada de quarta-feira na prisão da ilha de Nusakambangna, em Java Central, todos condenados pelo mesmo crime.
A família e o governo brasileiro tentaram, sem sucesso, evitar a execução, já que a legislação daIndonésia proíbe que a pena de morte seja aplicada contra doentes mentais.
O Itamaraty mostrou "sua profunda consternação" pela execução de Gularte, considerada como um "fato grave" na relação bilateral entre os dois países, deteriorada desde o fuzilamento em janeiro de outro brasileiro, Marco Archer Cardoso Moreira, também condenado à pena capital por narcotráfico.
Na época, o Brasil chamou seu embaixador em Jacarta para consultas. Um mês depois, a presidente Dilma Rousseff se negou a receber as credenciais do novo embaixador da Indonésia no país, o que levou o presidente Joko Widodo a ordenar o retorno do diplomata.


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